segunda-feira, 20 de maio de 2013

COMO ENSINAR UMA CRIANÇA A FAZER AMIGOS



Às vezes sente que o seu filho prefere estar com adultos do que com crianças da idade dele? Sente que ele até quer fazer amizades mas depois não as consegue manter?

Se este sentimento existe, tem de fazer alguma coisa pois claramente o seu filho está com dificuldades a nível do seu processo de socialização o que é mau para ele em varias aspectos, principalmente a nível pessoal, pois a imagem que ele constrói está também muito relacionada com o que ele sente que os outros pensam em relação a si.

Obrigar os seus filhos a fazerem amigos não adianta de muito. Para conseguir obter o resultado desejado tem que saber lidar com esta situação naturalmente .

As formas de carinho que os familiares mostram às crianças são diferentes das formas dos amigos. E, ter amigos oferecerá independência e ajudará no desenvolvimento da criança. Se para algumas crianças fazer amigos é algo que lhes “sai” naturalmente, para outras crianças é mais complicado. Então ai entramos nós, os pais, sendo o nosso papel ensinar o nosso filho a fazer o que ele não está, de forma imediata e natural, a conseguir fazer que é...FAZER AMIGOS.

Como sempre, o nosso melhor “ensinamento” aos nossos filhos é o limite...O limite é fundamental para que ele entenda que deve respeitar o espaço do outro e, só assim conseguirá fazer e manter os amigos.

A criança precisa desenvolver o seu EU de uma forma segura, de uma forma que lhe permita autonomizar-se do adulto confiante e sem medos...O fazer amigos serve para mostrar às crianças que existem outras formas de afeto além da família. E isso ajuda, sem duvida, na sua independência em relação ao adulto e no seu desenvolvimento emocional.

Sendo assim aqui ficam algumas dicas para o conseguir:
• Ajude o seu filho a perceber que os amigos não se “apanham”...os amigos tem de ser conquistados. Temos de fazer para os merecer....! Para os merecer existem varias coisas que podemos fazer...

• Respeitar os outros à nossa volta...não gozar, não fazer piadas, nem chamar nomes...Isso é ser “repelente” de amigos...Todos gostam de ser respeitados e, quando o são, sente-se felizes e querem estar ao pé de quem os respeita....Converse acerca disso com o seu filho!

• Ensine o seu filho a partilhar as suas coisas...a partilha gera troca de brinquedos, troca de brincadeiras e , logo, gera amizade!

• Ensine o seu filho a perceber o “agora tu, agora eu”, ou seja, ensine o seu filho a dar a vez, brincando ora ele, ora o colega. Pode estimular este tipo de ação através de algo tão simples como a construção de uma torre em casa.....Estimule o seu filho a deixar que por cada vez que ele coloca uma peça, o pai/mãe deve colocar outra, continuando assim até a torre estar muuuito alta! À medida que vai fazendo esta ação vá dizendo agora tu ( e dê a vez à criança), depois diga “agora eu” e mesmo que a criança queira ser ela a colocar a peça, não permita e torne e repetir com calma “não filho, agora é a vez do pia/ mãe..lembras-te...agora eu, agora tu....”

• Existe livros muito interessantes sobre esta temática do fazer amigos...leia para o seu filho e converse com ele sobre a leitura...um livro bem interessante é o “Vamos fazer amigos” da AMBAR.

• Não dê tudo ao seu filho. Este é um erro comum entre todos os pais e o resultado disso é uma criança completamente centrada em si, sem capacidade para se colocar no lugar do outro, tornando-se chata para os outros, seus pares, precisamente porque quer que tudo seja à sua maneira. Estabeleça-lhe limites!

Se acha que já fez tudo isto e a curto/médio prazo não vê resultados, se vê que o seu filho se mantém demasiado reservado, então o melhor é levá-lo a um psicólogo. Caso ele esteja constantemente ansioso, fique incomodado com pessoas, chore compulsivamente por não querer ninguém, então está mais do que na hora de o ajudar.

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil
Hospital Particular do Algarve - Alvor

A DISCIPLINA E A IMPOSIÇÃO DE LIMITES....




A disciplina é mais do que dizer “Faz isto porque eu estou a dizer“!

Sugiro uma pequena reflexão aos pais, para este final de Domingo...

Pensem nesta situação como se ela se passasse com vocês, pais...
Se o vosso patrão vos mandar/ordenar fazer alguma coisa, vocês até fazem mas, não o fazem com a mesma motivação que o fariam se o vosso patrão em vez de ser agressivo, dialogasse convosco e vos pedisse de forma gentil, explicando o porquê do seu pedido!

O mesmo se passa com o vosso filho....Se em vez de disciplinarem com o "Sim porque eu mando", ajudarem a criança a organizar o seu pensamento e a entender o porquê desse pedido, de certeza que a criança o vai realizar de uma forma muito mais empenhada e sem "birras".

Quando nos dizem para fazer algo de forma agressiva, a chamado imposição de limites através da educação autoritária, o que vai acontecer é que vamos obedecer por medo de ser punidos e não por percebermos realmente a tarefa ou nos motivarmos para ela....

O mesmo se passa com uma criança. Se o tipo de limite que usa com ela é o autoritário, corre o serio risco da criança obedecer apenas por medo, sem respeito pela sua pessoa, com a agravante de que não a está a ajudar a elaborar uma actividade reflexiva e orientadora da sua atitude.

Não há formas de impor limites perfeitas, nem técnicas perfeitas...Existem sim formas que nós, pais, percebendo o que o nosso filho precisa para crescer de forma saudável, podemos fazer.

Sem duvida, para crescer de forma saudável, a criança necessita ter autonomia para pensar. Para isso, é fundamental a clareza da comunicação e o estimulo do raciocínio...é necessário educar para a construção da autonomia!

ENTÃO....PENSE E ANALISE QUAL É O SEU ESTILO EDUCATIVO DOMINANTE...PENSE NAS CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS E NEGATIVAS DO MÉTODO QUE ESTÁ A USAR E, REPENSE-O EM FUNÇÃO DISSO!!!!

Desejo um excelente momento de reflexão a todos os pais...os filhotes agradecem


Texto adaptado do manual para pais da palestra " A importância do não na auto estima da criança"

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil
Hospital Particular do Algarve

A PRÉ ADOLESCÊNCIA E A COMUNICAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS....



Se para os pré-adolescentes esta fase de transições é difícil, não o é menos para os pais! Os nossos filhos passam de crianças meigas, carinhosas, amigas e preocupadas, para “outros filhos quaisquer”, que nós não reconhecemos, com caprichos, arrogância, mania de responder o que lhes apetece sem a anterior preocupação de magoar os pais! E há ainda a crescente necessidade de afirmação, que leva a atitudes desafiadoras da nossa autoridade enquanto pais ou a comportamentos desajustados!

Tudo isto é bastante complicado de gerir para os pais, sobretudo com o tempo (que cada vez vai sendo menos) para estarmos realmente disponíveis para eles, sem ser para nos estarmos a chatear porque o professor disse isto ou disse aquilo, ou porque não estudou, ou porque....sei lá mais o quê....!É um facto que muitas vezes o acompanhamento não é o que desejaríamos que fosse...

Há muitas mudanças a acontecer no pré-adolescente - físicas, emocionais e sociais. Os complexos com a imagem corporal, a necessidade de afirmação, o desejo de ser bem aceite entre os pares ou o despertar da sexualidade são algumas das dificuldades por que passam os filhos nesta idade e que, naturalmente, fazem eco nas preocupações dos pais.

Por outro lado, os pais sabem que a partir do momento em que os filhos começam a tornar-se adultos, a sua relação com os filhos mudará e têm receio de perder os «seus meninos».

A comunicação entre pais e filhos pode tornar-se muito difícil nesta fase. As mudanças inerentes a esta fase de transição alteram a forma como pais e filhos comunicam e se não houver um ajuste de parte a parte, é fácil criar roturas.
É fantasioso desejar uma comunicação aberta com os nossos filhos pré-adolescentes se não cultivamos um diálogo genuíno e fluido com eles enquanto crianças. Não nos podemos esquecer que já não são crianças pequenas (e por isso não os vamos tratar de forma infantil), mas também não os podemos tratar como se já fossem adultos (exigindo deles comportamentos que ainda não conseguem ter).

É um equilíbrio delicado, que se faz de vários avanços e recuos, sendo necessária muita paciência para que os momentos de sintonia e harmonia possam continuar a existir...Acima de tudo o importante é não «fechar portas».
Por vezes os pais pretendem «dar espaço» aos filhos ou acham que eles já não gostam ou não querem estar com os pais. É verdade que os filhos na puberdade começam a sentir uma necessidade de se afastar, mas isso não significa que não gostam dos pais ou que não querem saber da sua opinião.

No meio disto tudo, nós, pais, somos o adulto e, cabe ao adulto, organizar um pré adolescente que, pelo próprio conceito do nome, se entende que internamente deve estar um pouco caótico...Cabe-nos a nós, pais, manter a calma, respirar fundo por vezes, e não nos deixarmos irritar ou ficar zangados com as atitudes dos nossos filhos. Ignorar as perguntas que nos fazem, ser sistematicamente irónico com eles ou menosprezar os seus problemas e dilemas, só serve para os afastar de nós!

No entanto...ninguém é perfeito e...há dias assim...Hoje foi o meu dia.....Um mau dia de parentalidade...
Entre mil e um que foram bons e é ai que temos de nos centrar...Não somos perfeitos, erramos mas, também acertamos e, nos maus dias é importante lembrar aqueles que foram bons para ir rebuscar essa atitude que permitiu que, nessas mil e uma vezes boas, tudo corresse bem...

Desistir? NUNCA!

Estar disponível para aceitar que na parentalidade estamos sempre a aprender? SEMPRE!

Nem sempre é fácil, porque de facto em algumas situações eles conseguem ser arrogantes, e magoam-nos a sério mas, no fundo, eles também estão magoados...Existe um imenso desfasamento entre o desenvolvimento do corpo e das emoções, e daí o seu comportamento oscilar entre comportamentos infantis e tentativas por vezes desastradas de imitar o mundo dos adultos.

É preciso paciência e firmeza na orientação do seu comportamento, até que «aprendam» a regular-se melhor... É esse exatamente o papel dos pais...Ajudar a regular o comportamento dos filhos, promovendo a sua crescente autonomia, mas garantindo também a sua segurança.

normal que, gradualmente, se possa começar a negociar com os filhos algumas regras e formas de funcionamento.
Podemos ser flexíveis no estabelecimento de regras, mas uma vez estabelecidas, devemos ser firmes no seu cumprimento. Um erro grave é estabelecer regras que sistematicamente são quebradas ou prometer castigos que depois não são cumpridos. É fundamental que os pais tenham muito cuidado com o que prometem!

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil
Hospital Particular do Algarve

quinta-feira, 9 de maio de 2013



E já temos data para a nossa primeira palestra para pais

Tema: A importância do não na auto estima da criança

Hora: 10.00 - 11.30

Data: 18 de Maio, Sábado

Local: Sala de Formação da SUBNAUTA

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PARTICIPE E DIVULGUE AOS SEUS AMIGOS!

COMO ENFRENTAR AS BIRRAS...

 
Hoje encontrei uma amiga que me deu o “mote” para o tema do artigo de hoje...



A maioria das crianças entre os 18 meses e os 4 anos têm aquelas birras quase incontroláveis que deixam os pais sem saber como agi...r. Nesta fase, as crianças testam ao máximo os limites dos pais.

A birra resulta da perceção que a criança tem de si como ser individualizado com vontades, mas que ainda não entende que, para viver em sociedade, tem que ceder.
Esta fase da 'afirmação do eu' faz parte do desenvolvimento normal da criança, do conquistar de uma identidade própria.

Trata-se de um conflito que se processa no interior da criança e que basicamente coloca em confronto a procura da autonomia, por um lado mas, a ainda dependência dos pais por outro.

Apesar de ser uma fase complicada, os pais devem encara-la com felicidade...significa que o vosso filhote está a crescer!

Eu sei que é também uma fase onde nós, pais, desesperamos e nos questionamos” o que estou a fazer de errado?, sendo a maior dificuldade o conciliar a compreensão, que visa proporcionar as trocas afetivas de que a criança necessita, com uma determinada firmeza...

Em primeiro lugar, não se oponha se não tiver a certeza que será capaz de ir até ao fim. Se decidir enfrentar a birra, deverá fazê-lo com calma e firmeza. Mas, sempre tendo em mente que firmeza não implica ser agressivo, pelo contrário, só vai ter resultados se aliar a firmeza à suavidade.

Nesta fase, é fundamental que os pais não tenham receio de dizer 'não'... A disciplina, o dizer não é também uma forma de amor e deve praticá-la sem medos...Arrisco mesmo a dizer que a disciplina é, depois do amor, o mais importante que se pode dar a uma criança.

Agora...Não é necessário tornar-se num pai ou mãe “general”. Aqui ficam algumas dicas....

• Explique sempre a razão do 'não'. Não são necessárias grandes explicações e basta explicar uma, duas vezes no máximo....quando mais voltas dá e mais explica. Mais a criança percebe que pode “jogar” consigo e vai testar os seus limites até ao limite!!!!

• Expresse empatia e diga-lhe que compreende perfeitamente o que ela está a sentir. Dê exemplos seus de quando era pequenina e como se sentia quando era contrariada mas que agora que é grande percebe que foi para seu bem. Por exemplo: “'Quando era pequena, a avó também não me deixava comer todos os doces que eu queria e eu ficava muito triste. Mas, também sei que, se comeres os doces todos vais ficar com uma valente dor de barriga, mas a mamã gosta muito de ti e não quer que te doa a barriguinha.'

• É preciso que vá fazendo a criança entender que as birras dela não farão mudar a opinião dos pais em relação ao que lhe estão a dizer e que, também, não altera em nada o amor que sente por ela.

• Após a birra, felicite SEMPRE a criança por se ter decidido pelo bom comportamento.

• Se mesmo assim não resultar, ignore-a por alguns minutos e continue o seu percurso. Às vezes as birras não são mais do que um mero espetáculo...espetáculo esse que só funciona enquanto há expectadores... É claro que nem sempre é possível ignorar, principalmente quando a criança toma atitudes que a podem colocar em perigo e ai, a solução é mesmo conduzi-la pela sua mão e avisá-la que mais tarde será penalizada. As “penalizações” deverão ser adequadas à idade da criança e levadas até ao fim.

• As birras são também frequentes nas horas da refeição. Não insista ou valorize de mais a situação. Quando o seu filho tiver fome, com certeza vai comer tudo num ápice. Numa atitude de desespero pode sentir-se tentado a oferecer alimentos mais atraentes mas não caia em tentação. Será a pior coisa que pode fazer porque assim a criança vai sempre “jogar” para comer só o que quer.


A birra permite também à criança lidar com os seus sentimentos e a auto controlar-se. Se usar as estratégias atrás referidas, a criança vai, gradualmente (com as crianças, tudo é muito gradual e os efeitos da nossa atitude não são imediatos) aprender a auto regular-se, a auto gerir a sua frustração... Incentive-a a fazê-lo com os seus próprios recursos... não vá logo a correr tentar acalmá-la. Dê-lhe espaço para ser ela a descobrir a sua forma de se calmar...Sempre que possível ignore para a criança perceber que não é esse o caminho para chegar até ao que quer...Dê-lhe espaço para perceber que o caminho terá de ser outro!


• Só com firmeza as crianças aprendem a respeitar as regras propostas pelos pais. No mundo em que vivemos, que se rege por regras, o melhor é aprender a aceitá-las logo desde pequenino.


Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

OS LIMITES E A AUTO ESTIMA...



São as rotinas, o respeito, os limites que por um lado se impõem (pelos pais) e por outro lado se respeitam (pelos filhos), que promovem o diálogo e liberdade de
expressão, o suporte afectivo, o mimo e o elogio...
E são todas estas "coisas" boas que fazem com que inicialmente a criança e posteriormente o adolescente saiba que tem um lugar no mundo especial, o lugar especial que tem na sua família.

Permitem também que a criança saiba até onde deve ir e o porquê dessas balizas, para que as coisas façam sentido. Tudo isto vai ajudar a que não se sinta perdida e a que saiba que ali, em casa, no lar, na família encontrará as respostas às perguntas que se vai fazendo enquanto ser humano, que avança cresce, tanto física como psicologicamente.

Esse desenvolvimento é feito com outras ajudas: A educação escolar; os amigos; os colegas; ou até mesmo os vizinhos de bairro. São tudo formas de aprendizagem.

Em relação a esta temática, do crescer emocionalmente, Pedro Strecht utiliza uma expressão que acho fabulosa....ÂNCORA!!!!

Segundo o pedopsiquiatra "...para se aventurarem no conhecimento e descoberta as crianças precisam de sentir a casa e a família como uma ÂNCORA, a base segura à qual se referenciam e de onde vem a estabilidade emocional interior que lhes permite um equilíbrio entre a dependência e a autonomia..."

Na realidade, se fracassam constantemente ou são frustradas nas suas tentativas de autonomia, a sua auto-estima ressente-se.

Uma criança com elevada auto-estima é sociável e popular com os seus colegas, confia mais nas suas próprias opiniões e julgamentos, está mais segura das percepções de si própria, é mais assertiva nas relações sociais, mais ambiciosa e obtêm melhores resultados académicos.

No entanto, para que isso aconteça, as crianças precisam da tal ancora de que fala Pedro Strecht, precisam de sentir que existe um espaço especial onde há disponibilidade para elas, um espaço onde elas são ouvidas, têm atenção, tempo,dedicação, esperança, e adultos que desfrutam de tudo isto com elas.

Necessitam também da outra vertente...necessitam de normas, de conceitos que as ensine a debater, a aceitar a crítica, a rir-se de si mesmas; e isto não é possível se os pais estão sempre ausentes, ou se quando estão presentes não se dedicam a elas.

Fátima Poucochinho
Psicóloga imfanto Juvennil

DEPRESSÃO INFANTIL….EXISTE????



A Depressão é uma doença grave que, de facto, nos adultos é mais fácil de ser diagnosticada. Um adulto queixa-se e, mesmo que não o faça, as suas atitudes revelam que não se sente bem. 
Com as crianças, é diferente. Elas aceitam a depressão como um fato natural, próprio da sua maneira de ser. Embora esteja a sofrer, a criança não sabe que aqueles sintomas são resultado de uma doença e que podem ser aliviados.

Cada criança reage à sua maneira e recorre a diferentes mecanismos de defesa, dai a dificuldade em elaborar um diagnóstico fidedigno…É fundamental a elaboração de diagnóstico diferencial ou seja, analisar, não só em função do seu comportamento, mas, enquadrar tudo num “bolo” que inclui contexto familiar, escolar e pessoal e, então, a partir dai elaborar o diagnóstico. É analisando esse “bolo”que vamos realmente ver se estamos perante um quadro depressivo ou se se trata de outra questão.


• Assim, algumas crianças somatizam o sofrimento e queixam-se de problemas físicos, porque é mais fácil explicar “sentires” concretos, orgânicos, do que um “sentir” emocional.

• Outras retraiem-se e o desejo de exploração do ambiente, que é normal e faz parte do desenvolvimento saudável das crianças, desaparece. Podem ficar mais paradas, apáticas, com muito medo de separar-se das pessoas que lhe servem de referência, como o pai, a mãe ou o cuidador.
• Outras agitam-se de forma tão excessiva para não pensar no que dói, que acabam por ser rotuladas (e muitas vez medicadas) como hiperactivas.
• Outras ainda, perdem a iniciativa e, apesar de apresentarem Q.I. adequado à idade, não conseguem aprender.

Em contexto escolar, onde trabalho, este é o factor mais evidente…o deixar de conseguir aprender mesmo tendo excelentes competências…normalmente este factor surfe associado a questões comportamentais…ou muita agitação ou…agitação de menos!

• Outro factor que pode ser sinal de que algo não está bem é o sono…é suposto uma criança chega ao fim do dia cansada e, cai na cama a dormir (cada qual ao seu ritmo e respeitando a agitação própria de cada criança enquanto ser individual) … Não é normal a criança levar às voltas na cana até conseguir adormecer, nem é normal acordar assustada várias vezes durante a noite de forma consecutiva!


A situação complica-se quando, a partir daqui se gera uma bola de neve difícil de controlar…não aprendo…sou burro…auto estima baixa…insegurança e, por fim…angústia e revolta!

Se a criança não for adequadamente avaliada, o que vai acontecer é que vai crescer e “rigidificar” em si este modo de funcionamento…chega então, neste estado, à idade do armário…A ADOLESCÊNCIA!

NA ADOLESCÊNCIA
A criança só consegue usar as suas defesas até dada idade…a criança idealiza, a criança nega, a criança constrói na sua mente um real mais aprazível mas…quando o seu cérebro amadurece mais estas defesas deixam de ter efeito e a criança simplesmente,,,cai…! Ela acaba por perceber que afinal viveu uma vida que não era real e, quando se depara com o real, acabou por, ao fugir dele, não conseguir criar ferramentas para com ele lidar. A tristeza instala-se, o sentimento de desesperança também e, a criança, agora adolescente, acaba por conformar-se com esse modo de viver, de estar, que entretanto interiorizou.

São jovens claramente mais propensos ao uso de drogas, porque vão procurar alguma coisa que alivie esse desconforto permanente. “Eu também tenho o direito de ser feliz”…E mais uma vez entram num falso real, numa falsa felicidade que, afinal, foi o que sempre fizeram e por isso não sabem sair deste ciclo!

Juntar o imediatismo próprio do adolescente com o alívio momentâneo que a droga dá, é um caminho que passa a falsa impressão de que o problema está resolvido. Isso torna a situação mais difícil ainda...

Em relação à sintomatologia depressiva na adolescência, ela é bem diferente do que na infância, existindo mesmo diferenciação em relação ao modo como se manifesta nos rapazes e nas raparigas.

O rapaz não internaliza as emoções como a rapariga, que se tranca no quarto e chora. Geralmente, o sintoma mais evidente nos rapazes é a agressividade..., ficam na defensiva o tempo todo e parecem zangados com o mundo!
Basta alguém dizer bom-dia, para acharem que o estão a acusar de alguma coisa. Rebeldes e desafiadores, estão permanentemente em confronto. Criam problemas na escola, em casa e entram em conflito com as figuras hierárquicas. Irritam-se com muita facilidade e essas reações, às vezes, são confundidas com algum transtorno de comportamento.
Na realidade, o adolescente deprimido age como se a melhor defesa fosse o ataque… Se conseguimos ultrapassar essa barreira, ele acaba por mostrar a sua angústia e… chora.
Crescer é doloroso. Só crescemos quando o incómodo é maior do que o medo da mudança. Aí, ganhamos iniciativa, coragem e damos um salto. Isso acontece ao longo da vida e na infância inteira.

Por vezes esse salto não é dado e isso nem sempre implica um quadro depressivo.
Atenção!... Apesar de actualmente a “necessidade” de rotular e dar nomes ao que muitas vezes é apenas uma fase, estar muito na moda, muitas vezes os “rótulos” são usados com liberdade demais…. Basta um pequeno problema, uma desfeita, um desencontro emocional, uma discussão de amigos, um ar mais tristonho, para imediatamente vir à baila a tão falada DEPRESSÃO!
Não tem que ser assim….tristeza é diferente de depressão…Se for muito persistente procure ajuda e antes de “rotular” desadequadamente, aconselhe-se com um técnico especialista, no caso um psicólogo clínico!

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil