domingo, 21 de abril de 2013

A CRIANÇA TÍMIDA E CONSEQUÊNCIAS NO FUTURO...



Muitas crianças são tímidas...Apresentam uma postura caracterizada por uma maior dificuldade nas relações interpessoais e uma tendência estável e acentuada de fuga ou evitamento do contato social com outras pessoas.

Assim, podemos dizer que uma criança tímida é uma criança que internaliza o seu sentir, as suas emoções e o seu pensar...é uma criança que coloca para dentro e não consegue exprimir-se para os outros.

O que algumas pessoas desconhecem é que, por vezes, a timidez pode revelar-se através de outros comportamentos como a agressividade. É assim como que o escape da criança...a sua forma de “desacumular” tensões, existindo, neste ponto de vista, uma exteriorização de sentires...não do seu sentir, não dos seus pensamentos...é como um rebentar mas que não diz nada em relação à criança em si e aos seu estar!

A timidez, enquanto comportamento que fica só “para dentro” não causa muita “mossa”, chegando mesmo, por vezes, principalmente em contexto escolar, por ser reforçado...são crianças que não chateiam, não incomodam e que permitem menos barulho na sala...
De facto, a timidez enquanto comportamento “internalizante” não chama muito a atenção dos demais, visto que o prejudicado é o próprio indivíduo, ou seja, a criança.

A dificuldade relacional de que falei em cima pode ser vista de varias maneiras:
• Baixa sociabilidade,
• Baixa aceitação social,
• Timidez propriamente dita e
• Estilo de relação passivo ou inibido.

Refiro-me à baixa sociabilidade quando falo de crianças que têm uma baixa motivação de aproximação social mas sem necessariamente existir um alto grau de evitação. São aquelas crianças que preferem estar no seu cantinho ...se alguém vier ter com elas tudo bem, se não...ficam sozinhas!

A baixa aceitação social tem a ver com o facto da criança ser excluída e/ou esquecida pelos colegas e é nestas crianças que muita vez a timidez se revela através de agressividade pois, ao sentirem-se rejeitadas, são muito mais vulneráveis a problemas exteriorizados.

Por outro lado, a timidez propriamente dita envolve aquelas crianças que estão motivadas à aproximação, mas também à evitação. Ou seja, elas gostariam de interagir com os outros, mas acabam por evitar o contato por varias razões, como o excesso de cautela e receio diante de avaliações e desaprovações.

Falta ainda falar no estilo passivo nas relações interpessoais e aqui o termo assertividade é fundamental...São crianças que, em função da sua timidez, acabam por se anular perante os outros, mesmo tendo o direito de posicionar-se e mostrar-se perante eles.

Uma pessoa passiva, portanto, é uma pessoa dita inibida, introvertida, que muitas vezes se frustra por não conseguir atingir os seus objetivos. Sem expressão própria, há sempre alguém que, os se adianta para resolver os seus problemas ou a decidir por ela e, a criança, com medo de “estragar” a relação com os outros (ou de ser mal compreendida), acaba por adotar comportamentos de submissão, esperando que as outras pessoas percebam as suas próprias necessidades e anseios.
A partir daqui é fácil perceber que estas são crianças que se tornam extremamente influenciáveis pelos outros, precisamente pela ausência da expressão. São crianças facilmente manipuladas e controladas pelos seus pares e com muita dificuldade em defender os seus próprios direitos e anseios. Ou seja, poderão aceitar brincar a jogo que na verdade não gostam, comportar-se em discordância com os seus valores e opiniões para evitarem a exclusão social!

É relativamente fácil observar quando uma criança apresenta sintomatologia de inibição, timidez e começar desde cedo a trabalhar para que o atrás descrito não se torne realidade...Por exemplo:
• Os tímidos costumam manter-se mais quietos em comparação aos outros colegas,
• Não tiram dúvidas em contexto sala de aula,
• Não começam nem mantém diálogos com os seus pares,
• Em atividades de grupo costumam ficar calados e acatarem, sem argumentar, as opiniões dos outros,
• Isolam-se dos outros e/ou interagem bem menos do que seria esperado para a sua faixa etária.

Muitas vezes, tais comportamentos são acompanhados de níveis significativos de ansiedade, preocupações e pensamentos negativos diante de contextos interpessoais que impliquem avaliação dos demais (como ler em voz alta, resolver um problema no quadro, fazer uma apresentação de um trabalho.

Manifestando-se na infância, mas sem reversão do quadro, as dificuldades são passadas para as fases posteriores do desenvolvimento, muitas vezes mais graves. Já na fase adulta, as então crianças tímidas provavelmente terão dificuldades a nível da sua autoestima, no mercado de trabalho e também no âmbito relacional-afectivo.
Sem se posicionarem adequadamente, aceitarão o que de fato não querem (como uma relação afetiva sem perspectivas), submeter-se-ão a situações aversivas por não conseguirem resolver problemas , assim como também poderão ter dificuldades em fazer amizades.

Como qualquer outro comportamento, o critério para que um padrão seja considerado um problema é haver prejuízo em algum âmbito da vida. Assim, se a timidez passa uma maneira reservada de interagir para algo que prejudica a socialização e/ou o desempenho acadêmico, recomenda-se procurar ajuda profissional, de modo a evitar o agravamento do quadro para situações patologicamente mais complicadas.

Para os pais, como forma de ajudar as crianças tímidas a lidarem com a sua timidez (uma vez timido, sempre tímido...não se mudam personalidades, ajuda-se as crianças a lidarem e a gerirem as mesmas da forma o mais saudável possível) recomendo a pratica desportiva e/ou atividades artísticas, de acordo com o que suscitar mais interesse na criança.

Em relação à escola, após detectados os sinais, existem varias estratégias. Deixo-vos algumas sugestões que espero que ajudem:
• Valorizar mãos o colocar o dedo no ar do que propriamente dar realce ao facto da resposta estra errada ou certa
• Dar reforço positivo sempre que a criança se atreve a fazer uma “intervenção”
• Dar-lhe espaço...não dar a resposta por ela se ela não responder logo mas ajuda-la a chegar à resposta por si
• Respeitar o seu ritmo e a sua timidez e não a expor perante os outros

Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil

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